本棚を整理していたら古いメールのコピーがでてきた。息子の「ヨーロッパ発見」の報告メールであった。
2004年6月、息子Mauricio尚人が我が家の金髪の長男という称号を与えているAender(www.aender.com.br)とヨーロッパ旅行に出かけることとなった。その時私は彼に毎日メールで報告することを課した。
当時娘理奈は博士課程の勉強のためスペインのマドリッドに住んでいた。デンマークにはAender の文通時代からの友達がいて彼は招待を受けていた。それに息子は長い間フランス語を勉強していたのでパリに立ち寄ることもルートに入っていた。
下の文はその時のもので彼は西暦1500年4月22日ブラジルがポルトガルのPedro Álvares Cabral によって発見された時の公式随行書記 Pero Vaz de Caminha が当時の国王Dom Manuel にブラジル発見の手紙を送ったときの文の形式をとって書いたものである。真面目一途の息子だが時々遊び心で面白いことを言ったり書いたりする。報告メールの書き出しはその手紙からの引用となっている。
Carta ao El Rei Dom Papai
"Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!"
Dia 21 - Véspera das bodas reais, quando entramos em Madrid, fomos revistados duas vezes no aeroporto, e o guarda, ainda não satisfeito, achou o mandju da mamãe bastante suspeito. "É comida mesmo?" - perguntou abismado com o estranho aspecto do objeto (e fazendo careta de desgosto) ;-). À noite, a rotina de sempre, passeio na Puerta del Sol e na Gran Via, turista profissional é o que aproveita esses ditosos momentos de Mastercard.
Dia 22 - Bodas reais do Príncipe de Astúrias, tomamos parte desse importantíssimo evento sendo revistados 4 vezes na rua. À tarde, fomos para o museu Thyssen Bornemisza. Pelos corredores, obras de Goya, Cezanne, Degas, Munch, e grande elenco. (***)
Dia 23 - Tour pelo centro histórico de Madrid (Descobrimento de Madrid), fizemos voltar os olhos a Puerta del Sol, Plaza Mayor e a Catedral La Almudena (local onde foi realizado o famoso casamento do príncipe de Astúrias). À noite, testemunhamos a obesidade de Ronaldinho e a derrota histórica do Real Madrid (1x4)em pleno Santiago Bernabeu.(***)
Dia 24 - No Museu Centro de Arte Reina Sofia, saltam maravilhosamente aos olhos as obras de Picasso e Salvador Dali. Dali, vimos muita coisa mas não entendemos nada. A eloqüência de Guernica estava como um Xsara Picasso (o qual não se encontrava em exposição). (***/****)
Dia 25 – Não há palavras para descrever o encantamento que cerca o monastério de El Escorial. Vale a pena voltar. (*****)
Dia 26 - Passeio por Toledo. Ventania de turistas e poeira de carro por todo lado. Atravessamos as ruas com muita técnica acrobática. Digno de nota: a catedral (estava em reforma), o alcázar (estava fechado) e as igrejinhas que encontramos pelo caminho. (* * )
Dia 27 - Museo EI Prado. Goya, Velázquez, EI Grego. Nada de mais. A 'coisa' mais interessante foi o suco artificial de morango que compramos no barzinho do museu: 3 euros. as dizeres do cartaz "Que rico!" deve ter sido escrito em português. (***)
Dia 28 - Plaza de Toros. 6 touros entraram na arena, nenhum sobreviveu, (**)
Dia 29 - Nesse ritmo da Espanha, seguimos por Segóvia. Muita siesta e alguns bocadilhos. O Alcázar de Segóvia é um dos mais bonitos monumentos da província. A catedral tinha as características de ser "gostosa de estar dentro, um gótico puro, música ambiente e uma capela aconchegante" (comentários do Aender). No final da viagem, visitamos uma igreja fundada pelos cavaleiros templários no seculo XII. (****)
Dia 30 - Ávila. Rota mística pelos monastérios e igrejas de Santa Teresa d'Avila. Muralha esplêndida, vista romântica, gente bacana. Só faltou mesmo a praia. Melhores momentos: convento de Santa Tereza (fundado no local onde nasceu Teresa de Jesus), monastério de Gracia (onde amadureceu sua vocação de santa na mocidade), monastério de la Encarnación (onde ela viveu por 30 anos) e monastério de San Jose (O primeiro fundado pela santa, emblema teresiano e de espirituaridade). No monastério de la Encarnación se pode ver os objetos pessoais e o quarto de Santa Teresa, a almofada era apenas um tronco de
madeira) . (*****)
Dia 31 - Dia tipicamente madrilenho: siesta e ócio. A gente vai matando o tempo enquanto o tempo não mata a gente. (**)
Dia 01 - Não há palavras para descrever o encantamento que cerca o monastério de EI Escorial. Vale a pena voltar de novo. (*****)
Dia 02 - Palácio Real de Aranjuez. Nota: Casa de campo dos antigos reis de Bourbon, casa simplesinha sem muito requinte. (**)
Dia 03 - A jornada dos pobres turistas pela Espanha está terminada. Hora de sair da toca do tatu e seguir viagem rumo ao Polo Norte. Espanha Ole! Hasta luego, Madrid.
"E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, terça-feira, segundo dia de junho de 2004"
毎日報告書が届くものと思っていた私、国王 Dom Papai は六月三日に上のヨーロッパ発見のたった一回のまとめの報告書を受け取り下記のねぎらいの手紙を送った。
Quinta-feira, 3 de junho de 2004 Terra de Santa Cruz
Ó querido súdito del Rei Dom Papai, Pero Vás de Caminha o Mundo, vulgarmente conhecido como Maurício Naoto Sá Iké.
Até que em fim encontraste as palavras que tanto procuravas. Podes ter certeza de que tua carta acalmou o venerável rei e ele ordena que tu continues a cumprir teus deveres.
Aqui todos estão bem e nada de novo aconteceu. El rei espera ansiosamente novas descobertas.
Boa viagem de rumo ao Polo Norte e mil sortes !
da Terra de Santa Cruz, vulgarmente conhecido como Brasil.
El Rei Dom Papai e Rainha Dona Mamãe
2011年10月15日土曜日
2011年10月5日水曜日
Memai - 眩暈ーめまい
クリチーバに住む娘理奈からメールが入り去年の11月移住50周年を祝おうとあふりか丸同船者の集まりがサンパウロのスザノでありその時私のこのブログに使った写真を自分が日本人の心に関したコラムを持っている「Memai」に使っていいかとの問い合わせがありOKの返事をした。
この「Memai」という小新聞、クリチーバで日本の文化を広めようという主旨で発行されているもので年6回出されていて今一年目を迎えたと書いてあった。サイトへのアクセスはhttp://www.jornalmemai.com.br
娘が購読料を払ったようで家にも配達されてきたが娘のコラムがない。電話をすると今回は友達にゆずったのでこの次に載るとの返事だった。しかし内容は2週間ほど前にメールで送ってきていたので下に載せる。
話は娘がクリチーバに引っ越して初めて私と妻が訪れた時、川に沿ったジョッギングコースを歩いていた時のこと。コースに沿って色々な木が植えられていてその中に小さく縮こまっている木がある。よく見ると家の庭にも植わっている暑いところで育つ木だ。前にも紹介したがクリチーバは標高約900m、ブラジルで一番寒い州都だ。「かわいそうにここではあまり育たないよ。市役所に手紙をだすか。」
『拝啓、私は川沿いに植えられているピタンガの木です。ここの気候は寒くて私には合いません。私を生まれ故郷の暑いところへ返して下さい。お願いします。』
「どうだ、こういう手紙で」、そのとき娘は「そんなことを考えるのはパパぐらいのものよ」とちょっと茶化した。
あとで彼女私が言った手紙のことを深く考え、私のブラジルに来てからの歩みにまで発展させ、それが下記の文となった。彼女には言った事もない私の心の奥、感じ取っていたのか。
読み終わって私も妻も目頭に熱いものを感じた。
Meu pai, uma pitangueira e seus muitos frutos
Quando comecei a ensinar japonês em Curitiba, lá pelos idos de 2007, contava uma história motivacional para os alunos. De que havia escolhido ser professora por causa de um pé de pitanga que fica ao lado da ciclovia do Centro Cívico, mais ou menos na altura do Bosque Polonês. Como a história é importante e faz algum tempo que não a conto, decidi imortalizá-la no Memai. Ela é mais ou menos assim: em 2006, alguns meses depois de me mudar para Curitiba, meus pais – que moram no Espírito Santo - me fizeram uma visita. Naquela época, eu morava no Centro Cívico, bem perto do bosque em questão, e eles adquiriram o hábito, durante a sua estadia, de fazer uma caminhada matinal por essa área. Eis que uma manhã, meu pai, ao retornar do passeio, entrou no apartamento e me comunicou, seriamente, que iria escrever uma carta para a prefeitura.
Eu logo imaginei que a carta seria para tratar de alguma questão relativa à infra-estrutura ou à segurança no bairro. Mas não era nada disso. Segundo papai, a carta começaria assim:
“Prezado Senhor
Eu sou o pé de pitanga que foi plantado ao lado da ciclovia perto do Bosque Polonês. Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para a minha terra natal.”
Não pude deixar de sorrir enquanto meu pai, que havia visto a mirrada pitangueira, me explicava o sofrimento da planta. Lembro apenas de ter dito algo como “Só poderia ser papai!”.
Para mim, a graça dessa história reside, em parte, na inocência de meus pais. Reside, também, na memória guardada por essa compaixão. Afinal, eu mesma já havia percorrido aquele trajeto inúmeras vezes, mas meus olhos (seriam somente os olhos?) jamais estiveram abertos o suficiente para sentir a realidade dessa forma.
Talvez estivesse sempre envolta em meus próprios pensamentos e problemas, talvez estivesse com pressa, talvez não tenha sofrido suficientemente para alcançar esse grau de compaixão...
“Terra natal...” ele disse. Meu pai nasceu no Japão em 1944 e emigrou para o Brasil aos 16 anos para fugir da recessão do pós-guerra. Em 1960, meus avós e seus quatro filhos embarcaram no Afurika-Maru. Tempos muito difíceis, inacreditavelmente penosos.
Uma vez, há alguns anos, passeando pelo interior com meus pais e irmãos, vimos uma casa construída com alguns tijolos e paredes de pau-a-pique. Meu pai comentou, então, que havia vivido em uma casa semelhante em seus primeiros anos de Brasil. E que, à noite, o vento que entrava pelas muitas frestas trazia frio. Eu quase não consegui acreditar: afinal, como era possível que meu pai, aquele engenheiro aposentado sempre sereno e tranquilo, pudesse ter vivido aquilo há pouco mais de 50 anos?
“Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para minha terra natal”. Por quantos momentos de frio ele não havia passado? Quantas vezes não deve ter desejado retornar ao Japão?
Sei o quão difícil é conceber tais histórias e dificuldades que, felizmente, não vivi. Apenas as admiro, assim como a força e a determinação que se escondem sob a compaixão por todos os seres, valor tão caro à tradição zen-budista, mas que se revela em singelas formas como “Eu sou o pé de pitanga...”. Compaixão, mesmo tendo vivido na pele o frio e a dor da separação da terra natal.
Meu pai até hoje ri quando lhe digo o quanto essa história (ou seria um Koan?) ainda me emociona. “Bakajanaika!” (“Como é boba!”), ele responde.
E o que tudo isso tem a ver com as aulas de japonês? É que eu queria que mais pessoas, ao ouvirem histórias semelhantes, descobrissem os valores e as dificuldades que se escondem por trás das palavras – o poder de nossa própria cultura. Que descobrissem que a beleza está, às vezes, bem aqui ao lado, travestida em pequenas sentenças familiares, na comida um pouco mais doce ou salgada que o habitual, no olhar demorado de nossos pais.
No fundo, no fundo, eu queria simplesmente que, ao contar uma história como essa, mais pessoas sorrissem. Com os olhos compassivos, ao entender, enfim, que também podem ser o pé de pitanga.
P.S. Depois de escrever esta coluna, enviei um e-mail ao meu pai, pedindo permissão para colocar a foto que a ilustra. Eis a resposta: “Lina, não tem problema usar a foto. Ontem, procurando algumas fotos , revirei todos os álbuns e lembrei dos tempos passados, inclusive de vocês pequenos. Certamente encontrei as fotos da casa de pau-a-pique que fizemos de pilares de eucalipto, bambu, sapé e barro, cheia de desesperos e sonhos. Mas o tempo se encarregou de transformar as dificuldades e sofrimentos do passado em "*なつかしさ"(*), para podermos lembrá-los com carinho. ”
(*) -なつかしさ/natsukashisa pode ser traduzido nesse contexto como saudades.
Lina Saheki (saheki.lina@gmail.com) é diretora do Centro Cultural Tomodachi, professora de japonês e mestre em Direitos Humanos. Participação especial de Hisayoshi Saheki.
この「Memai」という小新聞、クリチーバで日本の文化を広めようという主旨で発行されているもので年6回出されていて今一年目を迎えたと書いてあった。サイトへのアクセスはhttp://www.jornalmemai.com.br
娘が購読料を払ったようで家にも配達されてきたが娘のコラムがない。電話をすると今回は友達にゆずったのでこの次に載るとの返事だった。しかし内容は2週間ほど前にメールで送ってきていたので下に載せる。
話は娘がクリチーバに引っ越して初めて私と妻が訪れた時、川に沿ったジョッギングコースを歩いていた時のこと。コースに沿って色々な木が植えられていてその中に小さく縮こまっている木がある。よく見ると家の庭にも植わっている暑いところで育つ木だ。前にも紹介したがクリチーバは標高約900m、ブラジルで一番寒い州都だ。「かわいそうにここではあまり育たないよ。市役所に手紙をだすか。」
『拝啓、私は川沿いに植えられているピタンガの木です。ここの気候は寒くて私には合いません。私を生まれ故郷の暑いところへ返して下さい。お願いします。』
「どうだ、こういう手紙で」、そのとき娘は「そんなことを考えるのはパパぐらいのものよ」とちょっと茶化した。
あとで彼女私が言った手紙のことを深く考え、私のブラジルに来てからの歩みにまで発展させ、それが下記の文となった。彼女には言った事もない私の心の奥、感じ取っていたのか。
読み終わって私も妻も目頭に熱いものを感じた。
Meu pai, uma pitangueira e seus muitos frutos
Quando comecei a ensinar japonês em Curitiba, lá pelos idos de 2007, contava uma história motivacional para os alunos. De que havia escolhido ser professora por causa de um pé de pitanga que fica ao lado da ciclovia do Centro Cívico, mais ou menos na altura do Bosque Polonês. Como a história é importante e faz algum tempo que não a conto, decidi imortalizá-la no Memai. Ela é mais ou menos assim: em 2006, alguns meses depois de me mudar para Curitiba, meus pais – que moram no Espírito Santo - me fizeram uma visita. Naquela época, eu morava no Centro Cívico, bem perto do bosque em questão, e eles adquiriram o hábito, durante a sua estadia, de fazer uma caminhada matinal por essa área. Eis que uma manhã, meu pai, ao retornar do passeio, entrou no apartamento e me comunicou, seriamente, que iria escrever uma carta para a prefeitura.
Eu logo imaginei que a carta seria para tratar de alguma questão relativa à infra-estrutura ou à segurança no bairro. Mas não era nada disso. Segundo papai, a carta começaria assim:
“Prezado Senhor
Eu sou o pé de pitanga que foi plantado ao lado da ciclovia perto do Bosque Polonês. Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para a minha terra natal.”
Não pude deixar de sorrir enquanto meu pai, que havia visto a mirrada pitangueira, me explicava o sofrimento da planta. Lembro apenas de ter dito algo como “Só poderia ser papai!”.
Para mim, a graça dessa história reside, em parte, na inocência de meus pais. Reside, também, na memória guardada por essa compaixão. Afinal, eu mesma já havia percorrido aquele trajeto inúmeras vezes, mas meus olhos (seriam somente os olhos?) jamais estiveram abertos o suficiente para sentir a realidade dessa forma.
Talvez estivesse sempre envolta em meus próprios pensamentos e problemas, talvez estivesse com pressa, talvez não tenha sofrido suficientemente para alcançar esse grau de compaixão...
“Terra natal...” ele disse. Meu pai nasceu no Japão em 1944 e emigrou para o Brasil aos 16 anos para fugir da recessão do pós-guerra. Em 1960, meus avós e seus quatro filhos embarcaram no Afurika-Maru. Tempos muito difíceis, inacreditavelmente penosos.
Uma vez, há alguns anos, passeando pelo interior com meus pais e irmãos, vimos uma casa construída com alguns tijolos e paredes de pau-a-pique. Meu pai comentou, então, que havia vivido em uma casa semelhante em seus primeiros anos de Brasil. E que, à noite, o vento que entrava pelas muitas frestas trazia frio. Eu quase não consegui acreditar: afinal, como era possível que meu pai, aquele engenheiro aposentado sempre sereno e tranquilo, pudesse ter vivido aquilo há pouco mais de 50 anos?
“Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para minha terra natal”. Por quantos momentos de frio ele não havia passado? Quantas vezes não deve ter desejado retornar ao Japão?
Sei o quão difícil é conceber tais histórias e dificuldades que, felizmente, não vivi. Apenas as admiro, assim como a força e a determinação que se escondem sob a compaixão por todos os seres, valor tão caro à tradição zen-budista, mas que se revela em singelas formas como “Eu sou o pé de pitanga...”. Compaixão, mesmo tendo vivido na pele o frio e a dor da separação da terra natal.
Meu pai até hoje ri quando lhe digo o quanto essa história (ou seria um Koan?) ainda me emociona. “Bakajanaika!” (“Como é boba!”), ele responde.
E o que tudo isso tem a ver com as aulas de japonês? É que eu queria que mais pessoas, ao ouvirem histórias semelhantes, descobrissem os valores e as dificuldades que se escondem por trás das palavras – o poder de nossa própria cultura. Que descobrissem que a beleza está, às vezes, bem aqui ao lado, travestida em pequenas sentenças familiares, na comida um pouco mais doce ou salgada que o habitual, no olhar demorado de nossos pais.
No fundo, no fundo, eu queria simplesmente que, ao contar uma história como essa, mais pessoas sorrissem. Com os olhos compassivos, ao entender, enfim, que também podem ser o pé de pitanga.
P.S. Depois de escrever esta coluna, enviei um e-mail ao meu pai, pedindo permissão para colocar a foto que a ilustra. Eis a resposta: “Lina, não tem problema usar a foto. Ontem, procurando algumas fotos , revirei todos os álbuns e lembrei dos tempos passados, inclusive de vocês pequenos. Certamente encontrei as fotos da casa de pau-a-pique que fizemos de pilares de eucalipto, bambu, sapé e barro, cheia de desesperos e sonhos. Mas o tempo se encarregou de transformar as dificuldades e sofrimentos do passado em "*なつかしさ"(*), para podermos lembrá-los com carinho. ”
(*) -なつかしさ/natsukashisa pode ser traduzido nesse contexto como saudades.
Lina Saheki (saheki.lina@gmail.com) é diretora do Centro Cultural Tomodachi, professora de japonês e mestre em Direitos Humanos. Participação especial de Hisayoshi Saheki.
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