2011年10月5日水曜日

Memai - 眩暈ーめまい

クリチーバに住む娘理奈からメールが入り去年の11月移住50周年を祝おうとあふりか丸同船者の集まりがサンパウロのスザノでありその時私のこのブログに使った写真を自分が日本人の心に関したコラムを持っている「Memai」に使っていいかとの問い合わせがありOKの返事をした。
この「Memai」という小新聞、クリチーバで日本の文化を広めようという主旨で発行されているもので年6回出されていて今一年目を迎えたと書いてあった。サイトへのアクセスはhttp://www.jornalmemai.com.br
娘が購読料を払ったようで家にも配達されてきたが娘のコラムがない。電話をすると今回は友達にゆずったのでこの次に載るとの返事だった。しかし内容は2週間ほど前にメールで送ってきていたので下に載せる。
話は娘がクリチーバに引っ越して初めて私と妻が訪れた時、川に沿ったジョッギングコースを歩いていた時のこと。コースに沿って色々な木が植えられていてその中に小さく縮こまっている木がある。よく見ると家の庭にも植わっている暑いところで育つ木だ。前にも紹介したがクリチーバは標高約900m、ブラジルで一番寒い州都だ。「かわいそうにここではあまり育たないよ。市役所に手紙をだすか。」
『拝啓、私は川沿いに植えられているピタンガの木です。ここの気候は寒くて私には合いません。私を生まれ故郷の暑いところへ返して下さい。お願いします。』
「どうだ、こういう手紙で」、そのとき娘は「そんなことを考えるのはパパぐらいのものよ」とちょっと茶化した。
あとで彼女私が言った手紙のことを深く考え、私のブラジルに来てからの歩みにまで発展させ、それが下記の文となった。彼女には言った事もない私の心の奥、感じ取っていたのか。
読み終わって私も妻も目頭に熱いものを感じた。

Meu pai, uma pitangueira e seus muitos frutos

Quando comecei a ensinar japonês em Curitiba, lá pelos idos de 2007, contava uma história motivacional para os alunos. De que havia escolhido ser professora por causa de um pé de pitanga que fica ao lado da ciclovia do Centro Cívico, mais ou menos na altura do Bosque Polonês. Como a história é importante e faz algum tempo que não a conto, decidi imortalizá-la no Memai. Ela é mais ou menos assim: em 2006, alguns meses depois de me mudar para Curitiba, meus pais – que moram no Espírito Santo - me fizeram uma visita. Naquela época, eu morava no Centro Cívico, bem perto do bosque em questão, e eles adquiriram o hábito, durante a sua estadia, de fazer uma caminhada matinal por essa área. Eis que uma manhã, meu pai, ao retornar do passeio, entrou no apartamento e me comunicou, seriamente, que iria escrever uma carta para a prefeitura.
Eu logo imaginei que a carta seria para tratar de alguma questão relativa à infra-estrutura ou à segurança no bairro. Mas não era nada disso. Segundo papai, a carta começaria assim:
“Prezado Senhor
Eu sou o pé de pitanga que foi plantado ao lado da ciclovia perto do Bosque Polonês. Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para a minha terra natal.”
Não pude deixar de sorrir enquanto meu pai, que havia visto a mirrada pitangueira, me explicava o sofrimento da planta. Lembro apenas de ter dito algo como “Só poderia ser papai!”.
Para mim, a graça dessa história reside, em parte, na inocência de meus pais. Reside, também, na memória guardada por essa compaixão. Afinal, eu mesma já havia percorrido aquele trajeto inúmeras vezes, mas meus olhos (seriam somente os olhos?) jamais estiveram abertos o suficiente para sentir a realidade dessa forma.
Talvez estivesse sempre envolta em meus próprios pensamentos e problemas, talvez estivesse com pressa, talvez não tenha sofrido suficientemente para alcançar esse grau de compaixão...
“Terra natal...” ele disse. Meu pai nasceu no Japão em 1944 e emigrou para o Brasil aos 16 anos para fugir da recessão do pós-guerra. Em 1960, meus avós e seus quatro filhos embarcaram no Afurika-Maru. Tempos muito difíceis, inacreditavelmente penosos.
Uma vez, há alguns anos, passeando pelo interior com meus pais e irmãos, vimos uma casa construída com alguns tijolos e paredes de pau-a-pique. Meu pai comentou, então, que havia vivido em uma casa semelhante em seus primeiros anos de Brasil. E que, à noite, o vento que entrava pelas muitas frestas trazia frio. Eu quase não consegui acreditar: afinal, como era possível que meu pai, aquele engenheiro aposentado sempre sereno e tranquilo, pudesse ter vivido aquilo há pouco mais de 50 anos?
“Estou morrendo de frio. Por favor, me devolvam para minha terra natal”. Por quantos momentos de frio ele não havia passado? Quantas vezes não deve ter desejado retornar ao Japão?
Sei o quão difícil é conceber tais histórias e dificuldades que, felizmente, não vivi. Apenas as admiro, assim como a força e a determinação que se escondem sob a compaixão por todos os seres, valor tão caro à tradição zen-budista, mas que se revela em singelas formas como “Eu sou o pé de pitanga...”. Compaixão, mesmo tendo vivido na pele o frio e a dor da separação da terra natal.
Meu pai até hoje ri quando lhe digo o quanto essa história (ou seria um Koan?) ainda me emociona. “Bakajanaika!” (“Como é boba!”), ele responde.
E o que tudo isso tem a ver com as aulas de japonês? É que eu queria que mais pessoas, ao ouvirem histórias semelhantes, descobrissem os valores e as dificuldades que se escondem por trás das palavras – o poder de nossa própria cultura. Que descobrissem que a beleza está, às vezes, bem aqui ao lado, travestida em pequenas sentenças familiares, na comida um pouco mais doce ou salgada que o habitual, no olhar demorado de nossos pais.
No fundo, no fundo, eu queria simplesmente que, ao contar uma história como essa, mais pessoas sorrissem. Com os olhos compassivos, ao entender, enfim, que também podem ser o pé de pitanga.

P.S. Depois de escrever esta coluna, enviei um e-mail ao meu pai, pedindo permissão para colocar a foto que a ilustra. Eis a resposta: “Lina, não tem problema usar a foto. Ontem, procurando algumas fotos , revirei todos os álbuns e lembrei dos tempos passados, inclusive de vocês pequenos. Certamente encontrei as fotos da casa de pau-a-pique que fizemos de pilares de eucalipto, bambu, sapé e barro, cheia de desesperos e sonhos. Mas o tempo se encarregou de transformar as dificuldades e sofrimentos do passado em "*なつかしさ"(*), para podermos lembrá-los com carinho. ”

(*) -なつかしさ/natsukashisa pode ser traduzido nesse contexto como saudades.

Lina Saheki (saheki.lina@gmail.com) é diretora do Centro Cultural Tomodachi, professora de japonês e mestre em Direitos Humanos. Participação especial de Hisayoshi Saheki.

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