Não tenho nenhuma intenção de comentar o filme do famoso cineasta japonês Akira Kurosawa. Esta é a história que Paula, amiga da minha esposa, contou sobre a mãe dela.
Paula nasceu no interior da Bahia e era mais velha dos cinco irmãos e ajudava no sustento de casa trabalhando num restaurante do lugarejo. Ela perdeu o pai quando pequena e a sobrevivência da família dependia de sobra de comida que ela ganhava do restaurante. Ao entardecer, os irmãos pequenos mal podiam esperar a chegada de Paula do restaurante com comida. Na época havia um alojamento perto do restaurante para trabalhadores de construção de uma fábrica e eles enchiam o restaurante. Sérgio, que é o marido dela hoje, era um deles. Paula atendia sempre Sérgio com sorriso radiante. A construção da fábrica terminou e chegou o dia de Sérgio voltar para casa. “Hoje eu vou criar a coragem” ele tinha decidido. Quando terminou a janta, Paula se aproximou dele como de costume. “Hoje é o último dia que como sua comida. Você não quer preparar a comida p´ra mim para o resto da vida?” Paula nem suspeitou que fosse a proposta de casamento e disse “De gosto, seria”. Sergio entendeu isso como o sim. “Então, vamos conversar com sua mãe”. Paula, que não entendia direito do que se tratava, respondeu “Sim”. Os dois chegaram à casa de Paula. Sergio contou à mãe de Paula que gosta muito dela e pediu a mão de Paula. A mãe de Paula não se mostrou abalada e chamou a filha para o cantinho e perguntou “Você gosta dele ?” “É o rapaz bom. Mas se eu sair de casa como é que ficam vocês?”. “A mulher é como uma flor, o momento certo é quando desejada. Não se preocupe você deve ir com ele. A gente dá um jeito” A coisa correu tão rápido que os dois tomaram o ônibus na mesma noite para casa de Sérgio. Na hora de casar, Sergio percebeu que Paula nem tinha a certidão de nascimento. Precisou mais de um ano para arrumar a certidão de nascimento de Paula, porque exigiu a negociação com o cartório para regisrar o nascimento de 15 anos atrás sem falar de despesas extras que tinham que pagar. Finalmente a certidão de casamento saiu. Ainda hoje há muita gente que não tem certidão de nascimento por morar nos locais inacessíveis ou simplesmente não dispor de dinheiro para pagar as despesas de certidão. Para melhorar esta situação, o governo decretou que a emissão de certidão de nascimento seria de graça para as pessoas carentes.
Passando anos, Paula se tornou uma dona de casa admirada e respeitada ajudando o marido, cuidando dos filhos e dando a mão aos irmãos. Com a vontade de crescer , ela aprendeu a fazer artesanatos e doces e hoje está curtindo a vida. Chegou ao final feliz?, Sim, mas foi apenas o preâmbulo da estória como de costume.
A mãe de Paula que morava na Bahia adoeceu. Como não tinha condição de cuidar bem no interior da Bahia, Paula chamou a mãe para casa dela e internou-a num hospital conveniado do plano de saúde que o marido sempre pagava para a mãe dela. A mãe que nunca saiu do interior da Bahia ficou espantada com o hospital moderno. No dia seguinte quando ela acordou, “Onde estou, será que estou no paraíso ?”. Paula que estava lendo o livro de perto disse “Aqui é hospital, mãe” “Mas Paula, vi uma moça de roupa branca ” “Foi a enfermeira, mãe” “Aqui tem a comida boa sem precisar de preparar, roupa de cama limpa, televisão, geladeira e até o ar condicionado. P´ra mim, aqui é um paraíso”.
Terminando a leitura e quando a Paula saiu para o corredor, ouviu do quarto ao lado alguém gritando “Que comida é essa, sem sal sem gosto e trancado neste cubículo quadrado, é um inferno !”
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